terça-feira, 19 de abril de 2011

Um pedaço de um Azul claro

"Tanto sangue dentro do meu derramado coração, era assim? Talvez fosse, mas não se trata disso. Lamúria insuportável, o corpo, esse que se arrasta com suas carências. Não precisa pressa, calma lá. A porteira está fechada para quem quiser passar, era isso? Já te disse que não responderei. Quero saber, e depois? Passaram- se meses, ele voltou. Foi longo, Doía. Continua doendo. Ainda não acabou. Passa, passará. Às vezes ficávamos deitados na minha cama enquanto eu tentava decifrar o seu destino. Marte, Ossanha gostava das folhas, das pedras. De peixes também. Ele me ensinou que as pedras eram vivas. Desde então eu as mantenho em copos cheios d'água, para que cresçam. São muitas. Agora espero outro. Que como ele, não será mais que Uma Nova Metáfora do Encontro. Por enquanto espio as pombas nas cumeeiras. Quando não há música, canto. Quando paro de cantar, como maçãs. Os talos estão jogados pelo quarto, entre os lençóis. Apodrecem como meus sentimentos, jogados na Via Láctea. Esfrego a lâmpada, mas o gênio se foi..."
( Decadeadro - Caio Fernando Abreu)

2 comentários:

  1. Gostei, cultivar as pedras ao acreditar que elas vivem, assim como cultivamos todo amor que julgamos válidos, mesmo que não seja por verdade, mas se acreditamos ele se torna.

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  2. É dar vida a tudo aquilo, que venha de algum modo a nos fazer bem...
    Cultivar uma rosa, mesmo sabendo que também ha espinhos.

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